Frequentemente acontecem coisas que nos deixam em estado de preocupação: finanças ruins, mudanças, doenças, desentendimentos… como alguém com fortes tendências a mentalizar as coisas, eu percebi que costumo me preocupar com muita frequência. Preocupação com a situação política do meu país, preocupação com a ignorância e violência cega das pessoas, preocupação com meus amigos, com o mundo, com o preço das coisas… enfim, qualquer coisa (literalmente) pode servir de gatilho pra uma preocupação.

         É normal que ocorra a tendência a nos preocuparmos, isso é um dos muitos mecanismos que nos auxiliam na difícil tarefa da sobrevivência. Preocupar-nos com boa alimentação, abrigo, segurança, higiene, entre outras coisas, é justamente o que nos mantém vivos. Se nós começamos a relaxar demais conosco, nosso corpo vai adoecendo, nossas relações interpessoais e intrapessoais vão se desgastando, nosso emocional se desequilibra. Então o mecanismo de preocupação é essencial, mas só até certo ponto.

         A partir do momento em que eu me condiciono mentalmente a sempre me remeter a esse estado de preocupação, de maneira tal que ele começa a me perturbar, me fazer mal, então está ocorrendo um desequilíbrio, porque a preocupação é uma FERRAMENTA, ela não pode agir como se fosse o OPERADOR.  Assim como o medo, que pode se transformar em uma fobia e anular a vida das pessoas, a preocupação também pode ficar tão imensamente distorcida que nós acabamos por estar em perpétuo estado de ansiedade, tentando antecipar o que está por vir gerando em nossa mente uma série de simulações de como essas situações antecipadas ocorrerão. Chegamos ao ponto ABSURDO de criar problemas inexistentes só para podermos nos preocupar com eles. Criamos a situação ilusória, os personagens, as falas de cada um, e vamos interagindo com essa simulação mental de tal modo que parece que ela é real, só que o nosso emocional responde a esses estímulos, ele não sabe a diferença do Real e da Simulação, então podemos ficar nervosos, tristes, revoltados, ansiosos. Isso é um conjunto de ferramentas maravilhosas sendo usadas de maneira errada. Se você não está numa situação em que você tenha que prever o máximo possível os acontecimentos e suas possibilidades, pra quê ficar se torturando?

         A esquizofrenia, por exemplo, pode estar relacionada a ansiedade extrema, onde essa antecipação começa a ficar tão palpável que se manifesta em forma de paranoia, vozes que não estão realmente lá, etc, ou seja: a mente começa a simular os perigos e coisas desagradáveis com tamanha perfeição que nossa percepção de realidade fica distorcida, e nossas simulações mentais são confundidas com a realidade, e nos sentimos atacados ou vigiados nesse estado paranoico.

         Nós, como seres viventes, não somos resumidos a uma armadura de carne e osso, que é o nosso veículo físico. Nem mesmo por nosso intelecto, nosso emocional ou nosso espírito. Tudo isso é um aglomerado de ferramentas (sejam ferramentas de manifestação, como nossos corpos, ou ferramentas de percepção, como a nossa mente, imaginação, intelecto), e há algo que move essas ferramentas e faz com que nós nos manifestemos. Não é necessário entrar em pormenores quanto a essa força Motriz Universal: alguns chamarão de Deus, outros de Natureza Buda, outros de Pneuma, Grande Espírito, Força da Vida, etc. O que realmente importa é que essa Força Motriz está em absolutamente tudo o que somos e fazemos, isso inclui o que falamos, o que sentimos, o que pensamos…

         Observando isto, fica mais fácil entender o motivo de tantas vertentes espirituais alertarem sobre a força de nossos pensamentos, palavras e ações: eles estão carregados da Força Motriz, e por isso tendem a consumir nossas reservas e se manifestar. Não é difícil observar isso ao longo de um dia comum: gastamos energia ao andar, falar, respirar, etc. O que nós não costumamos perceber é que também usamos desta Força para pensar, sentir, imaginar.

         Em uma situação normal (saudável) nós nos cansamos ao longo do dia, repomos parte da nossa energia através da alimentação e parte através do descanso, mas uma mente condicionada a trabalhar sem parar não nos deixa descansar plenamente como necessitamos, e por isso as pessoas com a mente e o emocional desequilibrados estão sempre mais cansadas, esgotadas, estressadas. Parte daquela Força Motriz que deveria estar sendo usada para regenerar os nossos corpos (densos e sutis) está sendo desviada para manter esse trabalho excessivo.

         O resultado disso não poderia ser diferente: a pessoa adoece, fica cada vez mais desequilibrada e as coisas vão piorando de um modo tão absurdo que nossos mecanismos de defesa começam a provocar desmaios, estafas, explosões emocionais, que é pra tentar aliviar toda essa tensão acumulada (energia emocional é uma energia de movimento, se não é liberta começa a criar pressão dentro de nós), nem que pra isso esses mecanismos tenham que mandar o corpo se desativar parcialmente, porque talvez ASSIM nós paremos por alguns momentos de desviar a Força Motriz/Vida para esses desequilíbrios e os corpos possam se regenerar tanto quanto possível.

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         Obviamente que aqui estou falando de casos extremos, mas nós vivemos um tempo muito intenso da nossa história humana, com todas essas descobertas científicas e globalização que nos conectam com milhões de perspectivas culturais/espirituais/filosóficas diferentes, uma verdadeira inundação de informação. É tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo que nós não sabemos em que manter o foco, e ficamos nos sentindo perdidos e desconectados da Realidade. Isso sem falar que nós vivemos em um sistema econômico e político insano que nos condiciona a viver para pagar contas, produzir bens de consumo, consumir esses bens e dormir para aguentar tudo de novo no dia seguinte.

         Vivendo num mundo assim, é de se esperar que a percamos o foco de quem nós somos e de onde estamos e entrarmos numa onda de preocupação e tensão constantes. Essas pequenas preocupações podem muito facilmente tornar-se grandes preocupações, e desse ponto para os extremos não há grande distância. Por mais que essas preocupações encontrem justificativa (como nas finanças, saúde, etc), nos entregarmos a elas é um erro tremendo! Elas avisam que algo não vai como o planejado, mas é só isso. Ao invés de nos entregarmos a essas preocupações, nós devemos aprender o que fazer com elas. Se eu tenho um problema, eu posso me entregar a esse sentimento e enlouquecer, ou posso usar essa situação como uma oportunidade de crescimento e amadurecimento.

         A partir do momento que eu percebi a preocupação se manifestar em mim, eu tenho que me esforçar tanto quanto possível para aceita-la (pois negá-la só iria fazer com que ela adquirisse mais força pela pressão que ela acumularia ao não ser expressada adequadamente), e depois de aceita-la, observá-la atenciosamente.

         Por observação, eu quero dizer análise. Existe um problema? Certo, existe um problema. Esse problema é grave? Sim, é grave, ou não, não é grave. É possível resolver esse problema? Se sim, então não há motivos para me preocupar, porque é possível resolvê-lo (ainda que seja difícil), se não for possível, então também não há motivos para me preocupar, porque não há como resolvê-lo. De que adianta investir energia Vital (Força Motriz) me torturando com algo que está além do meu controle e eu não posso resolver? De que adianta investir energia Vital me torturando com um problema que eu posso resolver? Em resumo: a preocupação serve para chamar a minha atenção, não para me torturar. Se eu já percebi o que ela tinha para me mostrar, não há motivos para colocar minhas ferramentas para trabalhar repetindo de novo e de novo que algo está errado. Muito melhor coloca-las para trabalhar na solução desse algo, e para isso é melhor acalmar-se, mas como acalmar-se diante do problema?

         Respire e Observe. Quando nós nos preocupamos, nossa mente nos mostra simulações de possíveis realidades decorrentes desses problemas, mas elas são apenas isto: simulações, e nem sequer abrangem TODAS as realidades possíveis, apenas algumas. Com isso eu quero dizer que não importa o quão terrível é a simulação que a sua mente fez, ela ainda não é realidade, não há porque gastar energia pensando repetidamente nela e com isso se torturar.meditation-spiritual-monk-buddhism

         Sabendo que se trata de uma simulação mental e não de uma vivência real, respirar fundo e observar a REALIDADE nos traz de volta ao equilíbrio e nos acalma. Olhe ao seu redor nesse exato momento. Onde você está agora? Quem está com você? Alguém está te atacando AÍ ONDE VOCÊ ESTÁ, nesse exato momento? Como estão as batidas do seu coração, o seu ritmo respiratório, os sons do ambiente, a temperatura da sua pele? É fazendo esse tipo de questionamento a nós mesmos que começamos a perceber que, apesar dos problemas, nós podemos ter paz.  Uma vez que nós estamos tranquilos o suficiente, podemos começar a trabalhar na resolução dos problemas que nos causam preocupação ou em alternativas, caso não seja possível resolvê-los. Não importa o grau de preocupação, o que importa é o que você faz com isso. Quando eu faço uma simulação mental, eu não estou lá, na minha simulação, eu na verdade estou aqui, no mundo real, não há o que temer. Ainda que eu leve a minha PRESENÇA para esta simulação (esta ilusão que eu criei pra me prevenir de algo) em realidade estou no mundo real, e é nele que eu devo manter minha presença. Me evadir da realidade através do medo e das preocupações ao invés de lidar diretamente com ela não vai resolver nada.

A preocupação reside naquilo que ainda está por vir, então mantenha a sua Consciência/Presença no presente, no agora. Reconheça a preocupação, observe-a, e deixe-a ir como qualquer outro pensamento. O seu emocional está apenas respondendo aos seus pensamentos, ou seja, suas simulações do futuro. Ao reconhecer, observar e deixar essas simulações/pensamentos irem embora, sem apego e nem aversão, como se estivesse observando a si mesmo do lado de fora, a resposta emocional é imediata. Não tente controlar, apenas reconheça e observe pelo o que ela é, e deixe-a ir.

Reconhecer um estado emocional é identifica-lo, observá-lo é ver o que ele provoca em você (seu ritmo cardíaco, sua respiração, seus pensamentos, suas vontades, tudo isso nesse momento da emoção), deixar ir é não apegar-se a essa emoção e nem negá-la, apenas aceite-a como ela é e decida o que fará com ela: você vai se render a ela e agir por impulso ou vai buscar entender o que ela tem a te dizer? Se você tem raiva de qualquer coisa, o que essa raiva tem a te dizer? Se você tem ansiedade com frequência, o que essa ansiedade tem a te dizer? O emocional age pelo estímulo, então que estímulos você está dando a si ou está se expondo para provocar essas respostas emocionais?

         Vamos trabalhar o nosso lado possessivo e controlador. Em realidade, nada está sob controle total. Controle é ilusório.

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